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Brianna! – Bill chamou depois de mais um dia de trabalho em que, dia após dia, ele cada vez mais odiava e mais cansado ficava. Sentou-se no sofá daquele apartamento minúsculo que tinha comprado em conjunto com a sua namorada, Brianna. O apartamento localizava-se no lugar mais sombrio daquela cidade e era uma edificação velha e gasta. A decoração quando ali chegaram resumia-se a um móvel velho e um sem fim de pó e teias e aranhas, lembra-se de Brianna afirmar falsamente ao ver a cara de desagrado dele:
“Vá, amor, não é assim tão mau!” beijando-o em seguida. Nem mesmo quando ela vira um rato morto naquele que seria o seu quarto, a removeu daquele animo de morar com ele, tirou dali o rato e à medida que o tempo foi decorando à maneira dela. Bill tinha de admitir que aquilo era agora um lugar onde era possível habitar, mas mesmo assim nunca na vida teria o aspecto com que ele um dia sonhara viver, um dia, com a mulher que amava. No entanto, Brianna nunca o deixava ficar desanimado ou ir abaixo punha-o sempre bem-disposto com as suas brincadeiras e com as suas palavras que transbordavam do sentimento que ela sentia por ele, sendo plenamente correspondida.
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Já chegaste, amor. – ela exclamou toda ela radiante saltando para o colo dele e depositando-lhe imensos beijos pela cara e parando carinhosamente nos lábios dele, dando-lhe um beijo fogoso.
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Sim. – ele disse com um sorriso fraco, e acariciando a face dela delicadamente. Ela beijou-o mais uma vez e fechou os olhos tentando, desta maneira, sentir melhor o toque dele, que sempre lhe parecera fantástico e único.
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Oh amor, não fiques assim, vá lá. – ela pediu fazendo um sorriso amoroso ao olhar dele e com um brilhozinho nos olhos ao que ele não conseguia resistir. Suspirou fortemente e esfregou a cara com as duas mãos voltando a pousá-las na cintura dela e olhando em volta para o apartamento.
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É só que… - ele hesitou -
… não foi isto que sonhei para nós. Por mim vivíamos bem longe daqui, num sitio mais calmo, à beira-mar por exemplo. E não era este barulho ensurdecedor de vizinhos a gritar que tínhamos, era paz, tranquilidade, todos os ingredientes para se fazer crias à vontade. – Bill falou com um sorriso travesso nos lábios, voltando a beijá-la mais selvaticamente. Deitou-a no sofá e pôs-se em cima dela, fazendo-a rir-se.
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Aqui também se podem fazer crias, Bill. Tu és, é um sonhador e esse cérebro não se cansa de fantasiar coisas, olha devias escrever um romance. – Brianna aconselhou rindo-se em seguida e beijando Bill para que o mesmo abandona-se o seu ar de amuado.
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Talvez até escreva mesmo, era da maneira que ganhava mais dinheiro do que naquele restaurante cansativo e malcheiroso. – Bill resmungou sobre o local onde trabalhava como sempre fazia.
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Olha então tu estás bem para ele. – Ela atirou num tom de voz irritado, tirando Bill de cima de si e cruzando os braços ao peito.
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Pronto, amor, desculpa, é só que… - ele falou agarrando-lhe novamente a cintura.
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… sim já sei, não é isto que sonhaste para nós. – ela falou revirando os olhos e beijando-o, pelo simples facto, de que não conseguia estar muito tempo chateada com ele.
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Anos se passaram e Bill conseguiu por fim o que sempre sonhara para eles. Comprara uma casa à beira-mar, bem junto da areia branca como a cal onde as gaivotas passeavam animadas batendo, de tempos a tempos, as asas, uma na outra. A casa era de um andar apenas, com um alpendre em madeira onde ele depositara uma mesa algumas cadeiras e ainda um grande banco, bem como uma rede, onde ele por vezes dormitava nos dias de imenso calor. O interior da mesma era amplo e espaçoso, contendo apenas a mobília necessária para ambos.
Era de manhã e o sol ia já alto, quando Bill entreabriu os olhos, voltando a fechá-los devido à imensa claridade que já existia. Com esforço, lá conseguiu abrir os olhos, olhando o tecto e suspirou de felicidade, olhou para o seu lado direito e lá estava ela enrolada apenas no lençol imaculadamente branco, protegendo o corpo desnudado, fruto de uma tórrida noite de amor entre os dois. Aí Bill percebeu que a noite anterior não tinha sido fruto da sua exagerada imaginação, tinha acontecido, cada toque, beijo e movimento. Puxou a mexa de cabelo que lhe cobria o rosto, podendo assim visualizar-lhe melhor o rosto esbelto, ela esboçava um pequeno sorriso, claramente satisfatório, ao vê-lo, ele sorriu. Ela mexeu-se na cama, ficando de barriga para cima e com um dos seios a descoberto, ele sorriu ainda mais ao ver a barriga já dura dela, carregando a sua “cria”, como ele noutros tempos lhe chamara, e não resistiu a passar a mão pelo seu ventre, acariciando-o. Em seguida, beijou o peito dela, subindo para o pescoço fazendo-a despertar com um simples bocejo, ele passou para os lábios, beijando-os fugazmente.
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Bom dia, meu amor! – ele cumprimentou voltando a beijá-la sendo correspondido.
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Bom dia, príncipe. – ela falou com um sorriso rasgado.
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Sabias que eu cada vez te amo mais?! – ele disse não sabendo ser uma pergunta ou uma exclamação.
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Não. – ela respondeu rindo face à cara de desiludido dele. –
É claro que sabia porque eu a cada que passa te amo mais e mais. – ela beijou-o com um sorriso desenhado nos seus lábios –
Agora vai lá para fora que eu já levo um café para nós os dois, sim? – ela pediu ao que ele assentiu prontamente, aquele era um ponto de rotina que haviam estipulado entre os dois, todos os dias, de manhã, mal acordassem, juntos bebiam uma chávena de café ao ar livre, bem à beira-mar, independentemente de fazer sol ou estar a chover. E assim foi, Bill vestiu os seus boxers e uns calções de banho e foi sentar-se junto das escadas de acesso ao alpendre, desfrutando da paisagem que a cada dia que passava o parecia extasiar e agradar mais. Inspirou profundamente sentindo o cheiro a água salgada a que se tinha familiarizado, expirando em seguida, sentiu o vento marítimo a bater-lhe na face, refrescando-o, pois o calor era já insuportável. Ela chegou junto dele, vestindo apenas umas das suas camisolas, pois apesar de Bill ser magrinho, era quase 15 centímetros mais alto do que Brianna, ao que a camisola lhe ficava como um vestido. Ela passou-lhe a chávena de café e ele sorriu-lhe em agradecimento, ela baixou-se acabando por se sentar, pôs os seus braços em volta dos ombros de Bill, segurando numa das mãos a sua chávena.
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Nunca me canso disto! – ele exclamou fazendo-a rir.
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Como as coisas mudam. – ela expressou dando-lhe a entender o porquê da sua risada anterior, ao que ele a acompanhou.
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E ainda bem! – ele disse por fim, enquanto a olhava nos olhos e os admirava, passou-lhe a mão livre pelo ventre fazendo-a sorrir abertamente e beijou-o carinhosamente e sem pressas.
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És um sonhador acordado. – ela acusou soltando uma gargalhado.
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Pois sou e quero viver aqui contigo para sempre, meu amor. – ele falou beijando-a, por fim, fugazmente.